segunda-feira, 7 de março de 2011

Avaliação cognitiva do desenho

Uma das principais ferramentas utilizadas no Diagnóstico Psicopedagógico é a análise de testes projetivos, cuja finalidade é a projeção de conteúdos presentes no inconsciente da criança de forma concreta, ou seja, por meio da utilização de figuras prontas ou de desenhos feitos pela mesma. A partir dessa análise é possível verificar e levantar hipótese sobre a modalidade de aprendizagem, o vínculo com o ser que ensina e com a família.

É isso que difere os testes projetivos utilizados na Psicopedagogia dos testes utilizados na Psicologia, pois os últimos são voltados para a investigação da personalidade e comportamento, dentro do âmbito emocional. Testes como o par educativo, o desenho da família, da figura humana e outros, são muito utilizados em consultório; no entanto a aplicação do desenho livre com o objetivo de avaliar o desenvolvimento cognitivo é pouco utilizado e conhecido. Este teste pode ser uma ferramenta importantíssima para avaliar e detectar um possível atraso no desenvolvimento cognitivo da criança, tanto na clínica como em sala de aula.


A tabela abaixo faz uma relação das análises de Luquet e Lowenfeld, uma vez que possuem muito em comum. Sua utilização deve ser criteriosa e a questão não é se a criança desenha bem ou mal, mas se em seu desenho estão presentes alguns componentes comuns para sua idade.
É comum encontrarmos situações em que uma criança de 7 anos apresenta traços do Realismo intelectual, dessa forma juntamente com outras ferramentas, como as provas operatórias, podemos concluir que seu desenvolvimento cognitivo está dentro do esperado ou até um pouco adiantado; mas a preocupação é quando esta criança apresenta traços comuns ao Realismo fortuito (2 a 3 anos).


*Clique na figura para ampliá-la.


Análise Piagetiana
1 - Garatuja: Faz parte da fase sensório-motora e parte da fase pré-operacional. A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há intenção consciente.
Aqui a expressão é o jogo simbólico: "eu represento sozinho". O símbolo já existe.
2 - Pré- Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido a vínculos emocionais. A figura humana torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto a utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".
3 - Esquematismo: Faz parte da fase das operações concretas. Esquemas representativos, afirmação de si mediante repetição flexível do esquema; experiências novas são expressas pelo desvio do esquema. Quanto ao espaço, é o primeiro conceito definido de espaço: linha de base. Já tem um conceito definido quanto a figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aqui existe a descoberta das relações quanto a cor; cor-objeto, podendo haver um desvio do esquema de cor expressa por experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.
4 - Realismo: Também faz parte da fase das operações concretas, mas já no final desta fase. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na figura humana aparece o abandono das linhas. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos. Aqui acontece o abandono do esquema de cor, a acentuação será de enfoque emocional. Tanto no Esquematismo como no Realismo, o jogo simbólico é coletivo, jogo dramático e regras.
5 - Pseudo Naturalismo: Estamos na fase das operações abstratas. É o fim da arte como atividade espontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade. Aparecem dois tipos de tendência: visual (realismo, objetividade); háptico (expressão subjetividade). No espaço já apresenta a profundidade ou a preocupação com experiências emocionais (espaço subjetivo). Na figura humana as características sexuais são exageradas, presença das articulações e proporções. A consciência visual (realismo) ou acentuação da expressão, também fazem parte deste período. A expressão aparece como: "eu represento e você vê”. Aqui estão presentes o exercício, símbolo e a regra.
Modelos de desenhos


Neste desenho é possível verificar que há rebatimento ou dobragem. Foi feita uma nuvem de cada lado e três flores de cada lado também.
Neste desenho apesar de perceber de imediato o rebatimento, uma árvore de cada lado, o que chama atenção é a transparência ou raios-x, ou seja, podemos ver o que está acontecendo dentro da casa.
Neste desenho podemos observar que as carteiras podem ser vistas de cima, ou seja, plano deitado.

Neste desenho percebemos a transparência ou raio-x, uma vez que não vemos frutas penduradas na árvore desta forma; mas o que chama atenção é o exagero, pois o caracol é do tamanho da árvore. As setas dão impressão de movimento, cinético, mas é sempre importante perguntar para a criança o que significa.
Todas as características apresentadas no desenho fazem parte do Realismo intelectual ou da fase Esquemática e estão de acordo com a idade das crianças (entre 6 e 7 anos). Pode acontecer de um mesmo desenho apresentar características de duas fases, significando a transição de uma fase para outra. Neste caso levamos em consideração o que está mais evidente.
Fonte: Material fornecido no curso de análise de desenho, oferecido pela Central Didática. 
http://carminatimaricato.blogspot.com/ www.profala.com/arteducesp62.htm

Nenhum comentário: